Danilo Torini, professor e gerente de Tecnologias de Ensino e Aprendizagem da ESPM, explica como a ciência de dados pode contribuir para a educação
Você já ouviu falar em ciência de dados? Esse estudo, que combina tecnologia, ferramentas e métodos, pode trazer muitos benefícios para diversas áreas do conhecimento, inclusive para a educação. Quem mostra como isso é possível é Danilo Torini, Professor e Gerente de Tecnologias de Ensino e Aprendizagem da ESPM. Ele falou sobre este assunto no episódio 99 do Primeira Jornada, o podcast da ESPM que te prepara para o mercado de trabalho.
O que é ciência de dados?
Também chamada de Data Science, a ciência de dados é um campo multidisciplinar que tem como principal objetivo extrair conhecimentos e insights a partir de dados. Na área da educação, esse estudo pode ajudar estudantes e educadores a tomar decisões mais embasadas, otimizar métodos de aprendizagem e personalizar o ensino de acordo com as necessidades individuais dos alunos.
“A Ciência de Dados é um campo que combina várias áreas do conhecimento: tem um pouco de estatística, programação e inteligência artificial, por exemplo. Eu posso até dizer que ela veio para ficar, que não será algo passageiro”, explica Torini.
Ela nos possibilita analisar um grande volume de informações que são produzidas a todo momento. A partir dessas análises, é possível encontrar padrões, ou seja, elementos que se repetem. “A gente tem produzido muitos dados usando a internet continuamente. E o tempo todo estamos alimentando esses ambientes de Data Science, para poder encontrar esses padrões”.
Como pode ser aplicada na educação?
Esse processo gera insights valiosos, que podem ser utilizados de diversas maneiras por educadores e instituições de ensino. “Os algoritmos de aprendizado de máquina têm sido muito úteis, porque ajudam a identificar, por exemplo, as dificuldades dos estudantes. Isso me ajuda a recomendar conteúdos específicos que possam melhorar o desempenho deles. É muito parecido com os serviços de streaming, como a Netflix”, ressalta o professor.
Esse conhecimento prévio, que é gerado com a análise dos dados, possibilita uma percepção mais aprofundada do estudante, fazendo com que a instituição possa entendê-lo melhor. “Eu posso prever, de alguma maneira, o desempenho desse aluno. Se eu percebo que ele está com algumas dificuldades e não ajudo a saná-las, provavelmente será mais difícil para ele aprender o próximo conteúdo”.
Dessa forma, a faculdade pode se basear nesses insights para propor novos cursos e disciplinas, oferecendo, assim, uma aprendizagem mais personalizada. “A educação mais tradicional tinha um conteúdo que já estava pronto, e o estudante precisava lidar com ele. Então, eu ensinava do mesmo jeito para todo mundo. Agora, estamos mais conscientes de que existem diferentes estilos de aprendizagem, que cada um tem a sua forma e o seu ritmo de estudar”.
Isso é muito importante. Afinal, ao ajudar o jovem a melhorar o seu desempenho, a escola contribui para sua permanência nos estudos. “As instituições de ensino também estão usando os dados para identificar se os estudantes estão com algum problema, se eles têm uma chance maior de evasão. Se o estudante está tendo um mau desempenho ou se está com algum tipo de dificuldade, isso aumenta a chance de ele abandonar a escola”.
Abordagens e ferramentas
Uma das abordagens dessa ciência e que pode guiar o processo educacional é o Data Driven. Com ele é possível criar planejamentos que sejam baseados em dados e não em impressões ou achismos, o que torna mais fácil a tomada de decisões assertivas.
“Quanto mais dados eu tiver sobre os estudantes do meu grupo, melhor será para eu devolver a eles o que é mais importante: um caminho que tenha a cara de cada um. Uma trilha que seja customizada para ele”. Mas, para chegar a esse resultado, é preciso seguir algumas etapas.
“Primeiro, eu preciso coletar essas informações de forma organizada e, depois, sistematizá-las para poder analisá-las. Muitas instituições já têm ambientes de aprendizagem, como AVAs, LMSs, Canvas, Moodle, Google Classroom e outros, onde o estudante vai fazendo as tarefas e, assim, temos todo o caminho que ele trilhou. Com isso, conseguimos ver onde ele teve mais dificuldade e onde passou de forma mais tranquila”.
O professor complementa: “Essas tendências vão me ajudar a planejar novos exercícios e até a minha aula. Se eu percebo que o meu grupo tem um determinado perfil, posso planejar considerando isso. Eu entendo o contexto e penso em estratégias para cada um desses perfis. Antes, a gente não tinha tanta informação para isso, íamos na intuição. Hoje, temos esses dados para ajudar”.
Além de educadores e instituições, Danilo explica que os estudantes também podem usar as ferramentas de inteligência artificial para complementar os estudos e construir processos que sejam mais customizados. “Existem esses chatbots como o ChatGPT, o Perplexity e o Gemini, por exemplo. Se eu tenho um conteúdo que é mais difícil, essas ferramentas têm muitos dados que podem explicar esse conteúdo com uma linguagem que eu entenda. Você dá aquele input, escreve o prompt, e ela vai te trazer algo que converse mais com você”.
Apesar de todas essas ferramentas que auxiliam o estudante, Torini destaca que os professores continuam sendo importantes no processo de ensino e aprendizagem. “Isso não significa o fim da atuação docente, muito pelo contrário. São recursos que ajudam professores e alunos a trabalharem melhor”.
Cuidados que devemos tomar
Torini ressalta que, quanto mais utilizarmos a IA, mais as soft skills serão fundamentais, uma vez que o trabalho de curadoria – de analisar e selecionar o que é bom e o que não é – continuará sendo muito importante. “Temos que ter pensamento crítico para nos diferenciar das máquinas. As hard skills e, agora, as digital skills, nunca irão substituir as soft skills. Eu preciso fazer a seleção dessas ferramentas para conhecê-las e usá-las de uma forma estratégica”.
Além de ter um olhar crítico, é fundamental que os usuários fiquem atentos aos termos dessas ferramentas para entender como os seus dados serão utilizados. “No Brasil, existe regulação. As plataformas são proibidas de vender as informações para qualquer outra empresa. Mas a gente tem serviços e serviços, ferramentas e ferramentas. Então, precisamos ter cuidado, ver se elas são homologadas e certificadas”.
“Temos a LGPD, que é a Lei Geral de Proteção de Dados, que nos protege quanto a isso. Mas já houve muitos vazamentos nessas plataformas. Às vezes, elas acabam não cuidando tanto dessa questão da segurança e da privacidade das informações. Então, é muito importante a gente sempre acompanhar como é que esses dados estão sendo coletados e tratados por essas ferramentas”.
A dica é estudar as ferramentas e usá-las sempre com responsabilidade e ética. “Dê uma olhada, tente se inteirar sobre quais ferramentas estão sendo utilizadas. Sempre se pergunte: ‘Como podem ajudar a desenvolver as minhas competências?’ Fazer uma parceria crítica é fundamental, e tem muita gente que ainda tem medo. Não estou dizendo que não devemos nos preocupar, mas precisamos entender melhor o outro lado. Você consegue não só compreender, mas enxergar coisas boas, que podem ser úteis para você”, finaliza.
Confira a conversa completa do episódio 99 do podcast Primeira Jornada: