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‘A autonomia me levou a ter mais confiança no que digo, faço e compartilho com o mundo’

Renan Damascena, Cofundador e CSO da AUÊ e aluno da 2ª edição do Fill the Gap, faz parte da lista 30 Under 30 do Meio & Mensagem. Saiba mais sobre a história dele

 

Com uma década de carreira, Renan Damascena, de 29 anos, busca fazer campanhas e projetos que tenham impacto na sociedade. Cofundador e CSO da AUÊ, um Hub Criativo de Impacto e Inteligência Cultural, ele integra a 4ª edição da 30 Under 30, lista do Meio & Mensagem que reconhece e dá visibilidade a jovens talentos nacionais com potencial de impactar as transformações da indústria de comunicação, marketing e mídia.

 

Damascena começou sua carreira na J. Walter Thompson, uma das maiores agências de publicidade do mercado. “Minha primeira experiência profissional foi a partir de um programa de diversidade racial. Devo muito da minha carreira a esse programa, porque, se não fosse esse acesso, talvez eu não tivesse a carreira que tenho hoje”, contou ele em entrevista ao Blog ESPM.

 

Foi essa porta de entrada que o levou a se especializar em estratégia e a desenvolver uma metodologia própria de pesquisa que olha para além do viés dos grandes centros. Em 2024, ele foi convidado a compor o júri global do WARC (premiação associada ao Cannes Lions que homenageia projetos de marketing), sendo o único brasileiro que não estava atrelado a uma grande corporação.

 

Já em 2025, ele participa da 2ª edição do Fill the Gap, curso realizado pela ESPM — autoridade em Marketing e Inovação voltada para negócios — em parceria com as agências AlmapBBDO, Artplan e Droga5, que busca capacitar altas lideranças e impulsionar carreiras de pessoas negras, indígenas, com deficiência, trans e não binárias.

 

 

Você acabou de voltar de Cannes. Como foi essa experiência?

Foi um momento auge da minha carreira, em que toda a minha trajetória começa a ser, de fato, celebrada, respeitada e reconhecida.  Fomos selecionados [a agência AUÊ, fundada por ele e Thamara Pinheiro] para o Programa ERA de Cannes, que democratiza e facilita o acesso de jovens emergentes que têm iniciativas transformadoras em sua sociedade, no seu território local, para participarem do Festival de Cannes. Foi uma experiência muito positiva, porque a gente tentou, de alguma forma, aproveitar todas as oportunidades, inclusive para trabalhar. Então, mais do que assistir a palestras e fazer networking, a gente fechou uma parceria com a TV Globo e fez a cobertura do lado B do evento para a emissora.

 

 

Pode me contar um pouquinho dessa sua posição de estrategista e de pesquisa na agência?

Sempre achei muito escassas as ferramentas de geração de dados. Via que tudo o que me traziam eram insights muito limitados, enviesados. Eu sou da geração Z e sempre pesquisei o que a minha geração está consumindo, o que aparece nesses relatórios. E não me via ali, porque eles não estavam com uma lupa focada também nas margens, para além dos grandes centros.

 

Então, criei uma metodologia de olhar para dados reais, das periferias e das comunidades brasileiras, para além do eixo Rio-São Paulo. O resultado disso é que nada sai da AUÊ sem gerar algum tipo de impacto para a comunidade: a partir do momento que recebemos o briefing, a gente já aponta para o cliente uma oportunidade de impacto perene ou efetivo que a marca pode deixar. E aí, se a ideia for aceita, maravilha, a gente segue junto. Se não, a gente não aceita.

 

 

O que te levou a começar um negócio próprio? 

Dentro da indústria, a gente foi muito negligenciado e, vendo que não éramos ouvidos nem considerados nesses lugares, construímos a AUÊ. Foi muito bonita a forma como o nosso negócio surgiu, porque partiu de um desconforto estrutural mesmo. As agências, como um todo, ainda operam numa lógica muito convencional, tradicional e fordista [referência à linha de montagem criada por Henry Ford, marcada por processos engessados, hierarquia rígida e pouca margem para participação criativa]. Já nós, na AUÊ, acreditamos no modelo colaborativo de criação, em que todo mundo seja criativo, se sinta à vontade para ser inteiro e agregar no processo de desenvolvimento dos projetos.

 

 

Você sente que essa autonomia te trouxe mais confiança? Como você sente que se desenvolveu como profissional a partir disso?

Com certeza! Eu fui ensinado, dentro da estrutura da indústria da propaganda, a ter muita confiança, a trabalhá-la e dar a cara a tapa. Essa autonomia me levou a acreditar ainda mais no que digo e no que faço – e também a chegar à lista do 30 Under 30 [do Meio & Mensagem]. Porque passei a ter mais autonomia em relação ao que acredito, à minha visão de mundo e ao que compartilho com as pessoas.

 

As maiores lideranças que me inspiram não são pessoas aspiracionais, mas aquelas que impulsionam e catapultam. E isso começa a partir desse processo de identificação: com a autonomia, a coragem de contar minha própria história, de falar sobre o que eu acredito – a partir das experiências que vivi na indústria e do que posso agregar às pessoas por meio da minha visão e da minha bagagem.

 

 

Falando da lista do Meio & Mensagem, como foi receber esse reconhecimento e o que acha que isso traz para você e sua carreira?

Foi uma grande surpresa! Mas é quase um reflexo dos movimentos e das conexões positivas que eu fiz ao longo de toda a minha jornada. Se o meu nome apareceu nessa lista, é porque consegui construir um lugar de relevância, autoridade e confiança na minha excelência e na minha entrega profissional. A partir do momento em que crio um negócio independente ao lado da minha sócia, começo também a ter mais voz. As pessoas passam a me ouvir mais. Então, não estou embaixo de uma estrutura, representando algo ou alguém. Estou representando o meu próprio negócio.

 

 

Como está sendo a experiência no Fill the Gap?

Está sendo muito transformador. Ao mesmo tempo em que os professores me impulsionam, os meus colegas me inspiram demais com as suas vivências. É uma jornada em que a verdade nua e crua se apresenta diante de mim. Especialmente porque todos os mentores mostram que não é fácil ser um gestor ou um executivo como nós, dentro de uma estrutura que é tão rígida, hostil e nociva. Mas eles estão encorajando a gente, nos empoderando para seguirmos firmes, em frente e em coletivo.

 

Acredito que, com o Fill the Gap, eu consiga, de alguma forma, ter uma chancela ainda maior para ocupar uma posição de alta liderança. Não mais em espaços só pretos, como os que já fiz parte, mas também em outras tantas agências, hubs, estúdios e veículos, onde as pessoas me vejam, antes de qualquer coisa, pelo meu processo de formação.

 

 

Leia perfis de outros participantes do Fill the Gap:

Milena Cruz: ‘Viver em mundos diferentes me fez uma pessoa criativa e questionadora’

Tawane Silva: ‘A comunicação é um fator de transformação ambiental e racial, que pode construir e mudar a sociedade’

Mayara Marley: ‘Quando entendi que minha origem, história e visão periférica eram ativos valiosos, tudo mudou’

 

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Foto de Isabela Moreira
Isabela Moreira
Repórter do Núcleo de Conteúdo da ESPM
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