Professora de Cinema e Audiovisual da ESPM avalia o bom momento do cinema brasileiro, que concorre à Palma de Ouro com O Agente Secreto e é homenageado como País de honra do evento
O cinema brasileiro está em alta: após a vitória do filme Ainda Estou Aqui no Oscar deste ano, o Brasil é o país de honra no Festival de Cannes, maior encontro internacional de profissionais de cinema do mundo, que ocorre entre 13 e 24 de maio na França.
“O Brasil ser o país de honra é algo histórico”, avalia Cyntia Calhado, Professora do curso de Cinema e Audiovisual na ESPM-SP. Para a especialista, esse destaque é um reconhecimento do potencial do cinema brasileiro, fazendo com que se consolide e seja reconhecido como um agente importante do mercado internacional.
“Neste ano, a presença dos profissionais brasileiros no evento aumentou cerca de 50%, o que é bem expressivo”, diz Calhado. O Ministério da Cultura, por exemplo, levou uma comitiva de 65 representantes, incluindo a Ministra Margareth Menezes.
“Essa ampliação da participação brasileira acontece como parte das comemorações da temporada Brasil-França, que marca os 200 anos de relações diplomáticas entre os dois países”, explica a professora da ESPM. “Vale lembrar que a França é uma das nossas grandes parceiras de coprodução para o cinema. É uma oportunidade única de expandir as conexões, fortalecer diálogos e mostrar ao mundo a diversidade e criatividade do cinema brasileiro.”
O país concorre ainda à principal premiação do evento, a Palma de Ouro, com o longa-metragem O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho. Estrelado por Wagner Moura e Maria Fernanda Cândido, a obra recebeu 13 minutos de aplausos após a exibição e elogios como “thriller excelente” da crítica especializada internacional. “Essa recepção contribui para aumentar a relevância simbólica da obra e sua repercussão pública”, avalia Calhado.
De acordo com a professora da ESPM, o fato de Ainda Estou Aqui, filme de Walter Salles, visto por 8,3 milhões de pessoas ao redor do mundo, também se passar durante a ditadura militar no Brasil faz com que haja uma abertura maior do público internacional para esse tema, tratado com outra abordagem em O Agente Secreto.
“A gente tem um movimento no cinema internacional que normalmente funciona por ondas. Então, um filme abre caminho para discutir um tema histórico específico. A ditadura é um tema presente na América Latina.”
A especialista aponta que os filmes argentinos abriram o caminho, no sentido das grandes premiações. “E também o cinema brasileiro, agora com Ainda Estou Aqui trazendo novamente essa temática a partir do nosso olhar”, acrescenta.
“O fato de O Agente Secreto se tratar de um filme sobre o autoritarismo político reforça o compromisso da arte, especialmente do cinema brasileiro, de se posicionar contra as tendências antidemocráticas contemporâneas”, analisa ela.
Corpo docente da ESPM em Cannes
Renan Brandão, Professor do Master em Negócios e Produção Audiovisual na ESPM-Rio, foi para o festival com o curta-metragem que produziu, Samba Infinito, escrito e dirigido por Leonardo Martinelli.
A produção Brasil-França fez parte da “Semaine de la Critique”, a Semana Internacional da Crítica, uma mostra paralela de curtas-metragens que integra a programação oficial do Festival de Cannes. Trabalho de grandes nomes do cinema mundial já passaram por ela, como Ken Loach, Leos Carax, Wong Kar-Wai, Guillermo del Toro e Alejandro González Iñárritu.
Samba Infinito se passa durante o Carnaval e acompanha um gari (Alexandre Amador) de luto pela perda irmã que, durante o trabalho em meio à folia dos blocos de rua, encontra uma criança (Miguel Leonardo) perdida e decide ajudá-la. O curta conta ainda com participações especiais de Camila Pitanga e Gilberto Gil.
O professor espera que, com essa realização, seus alunos percebam a importância de estar em movimento criativamente, emocionalmente e profissionalmente: “Samba Infinito é um exemplo disso: um filme que nasce do desejo de experimentar, de contar uma história com poucos recursos, mas com muita entrega”.
“O curta-metragem é um formato potente para isso, porque permite testar ideias, linguagens e caminhos com mais liberdade”, contou. “Quero que eles [os alunos] vejam que não é preciso esperar o ‘projeto ideal’ para fazer cinema — o importante é fazer, errar, refinar e seguir em frente.”