Bárbara Zachi, Coordenadora Acadêmica do LifeLab da ESPM, explica como esse transtorno, causado pelo medo de ficar sem celular, pode atrapalhar os estudos
Com os avanços tecnológicos, os dispositivos eletrônicos passaram a ocupar, cada vez mais, um papel importante na vida cotidiana. Hoje, é comum passarmos boa parte do tempo conectados à internet e às redes sociais, seja a trabalho ou lazer. Não por acaso, a ausência do celular pode provocar estranheza e até uma sensação de vazio.
Para explicar quais são os males dessa dependência digital, também chamada de nomofobia, conversamos com Bárbara Zachi, Coordenadora Acadêmica do LifeLab (Laboratório de Competências Humanas) da ESPM.
O que é nomofobia?
Derivado da expressão inglesa “no mobile phone phobia”, o termo “nomofobia” é utilizado para descrever o transtorno caracterizado pelo medo irracional ou ansiedade de ficar sem acesso ao celular. Esse temor pode surgir por diversas razões: desde uma possível perda do aparelho até a falta de bateria ou ausência de sinal, por exemplo.
Esse sentimento de privação pode impactar negativamente a qualidade de vida do usuário da internet, afetando, sobretudo, a sua saúde mental. Embora qualquer pessoa esteja suscetível a desenvolver esse transtorno, as crianças e os adolescentes podem sofrer mais com ele, uma vez que estão em fase de desenvolvimento e têm contato cada vez mais cedo com o mundo digital.
Segundo Bárbara, um dos fatores que levam os jovens a terem essa dependência e desenvolverem a nomofobia é o comportamento que eles observam nos adultos e passam a replicar. “O jovem que desenvolve esse transtorno ou que, de uma maneira geral, está viciado em celular, é um espelho da sociedade adulta. Então, uma vez que nós, como gerações X e Y, também estamos viciados em celular, isso se reflete diretamente neles”.
Como isso pode prejudicar os adolescentes?
A nomofobia pode causar prejuízos em diversos âmbitos da vida dos jovens: seja no campo profissional, acadêmico ou familiar. Nos estudos, uma das competências mais prejudicadas é a autogestão. “Quando falamos em autogestão, nos referimos à responsabilidade, ao comprometimento com as entregas e a compreensão de que as tarefas e os projetos são mais importantes do que atender o celular ou estar constantemente nele”.
Outros efeitos da dependência digital, também ligados à autogestão, incluem a dificuldade em se organizar e conseguir manter a concentração. “Isso afeta a habilidade de focar no que é preciso, tanto nas leituras quanto em sala de aula. Existe uma dificuldade de entender o que é prioridade, de compreender a importância dos exercícios”, exemplifica Bárbara.
Além disso, há a questão de como a dependência tecnológica afeta a autoestima e a autoconfiança das pessoas, uma vez que elas sentem a necessidade de serem validadas socialmente. “O Brasil é o segundo país que mais consome redes sociais no mundo. Temos os maiores índices de depressão na adolescência, números absurdos de crescimento que beiram um aumento de 30% a 60%. Estamos falando da construção de um hábito em que você está constantemente vendo vidas perfeitas, idealizadas, de uma realidade que não é verdadeira”.
Para Bárbara, existe também uma barreira que atrapalha o desenvolvimento de competências relacionais. “O celular pode impedir o jovem de aproveitar as oportunidades de convivência, como os recreios escolares e os jantares familiares”. Isso também compromete outras soft skills, como a comunicação.
Como é possível ajudar o jovem que enfrenta esse transtorno?
De acordo com Bárbara, pais e responsáveis podem ajudar o adolescente que está sofrendo com isso sendo presentes e abertos à escuta. “Não podemos cair na falácia, comum entre os adultos e os mais velhos, de achar que os jovens estão errados e nós não temos responsabilidade sobre essa forma de viver”.
A profissional destaca que não devemos assumir uma postura de quem sabe tudo, enquanto o jovem não sabe nada. “Às vezes, ele vai me contar algo e eu já quero dar uma solução, dizer imediatamente o que ele deveria fazer. Mas, muitas vezes, o que esse jovem precisa é apenas ser escutado, sentir que está sendo compreendido. É menos sobre o que eu devo dizer, e mais sobre: ‘nossa, que interessante o que você está trazendo para mim’.”
Bárbara também reforça que é importante servir de exemplo para os mais jovens. “Se eu me coloco como responsável, tanto por formar essas novas gerações quanto por transformar o meu entorno, eu preciso ser o exemplo de que na hora do jantar o meu celular não vai estar na mesa”.
Além dos pais, a comunidade também pode atuar como parceira do estudante, ajudando-o a enfrentar esse problema. “Como ESPM, temos a responsabilidade de estar presentes na vida do estudante, mantendo essas trocas e esse assunto ativo, dando espaço para que ele se reconheça e se identifique”.
Entre as iniciativas oferecidas pela ESPM estão o PAPO (Programa de Acompanhamento Psicológico e Orientação) e o PIPA (Programa de Intervenção Pedagógica da Aprendizagem). “Essas trocas acontecem tanto com os professores em sala de aula quanto com as entidades que compõem a vida acadêmica do estudante, assim como nesses espaços que a ESPM oferece, e que são muito interessantes”.
“Entendemos que esse estudante tem espaço e oportunidade para trabalhar as competências que o ajudam a se relacionar melhor com o mundo, estar mais preparado para o mercado de trabalho, se sentir mais acolhido dentro da sala e naquele espaço, e compreender que a ESPM é um lugar seguro e frutífero para ele poder ser quem é”, finaliza Bárbara.