Artigo destrincha o sucesso do cantor britânico, um impactante caso de posicionamento, naming e manifestações de marca alinhadas para forjar uma imagem autêntica
Por Thais Cavalcante, Sérgio Guardado e Alexandre Salvador*
Naming, o nome de uma marca, é uma das bases da construção de uma imagem desta, produto de seu projeto de posicionamento, e a parte a ser comunicada ativamente de sua identidade. Nome é um dos ativos mais valiosos do brand equity, comunicando parte da mensagem pretendida, moldando a percepção do público e criando diferenciação (Aaker, 1996; Keller & Machado, 2006).
Yungblud (pronunciado como young blood), cantor britânico de 28 anos, ilustra um impactante caso de posicionamento, naming, manifestações de marca alinhadas para forjar uma imagem autêntica para ocupar um espaço vago em nossos corações e mentes. Explicamos os motivos abaixo.
Por que Yungblud?
Yungblud é o nome artístico de Dominic Harrison, artista reconhecido como representante da geração Z num estilo musical autêntico que mescla elementos de rock alternativo, punk rock e hip hop. Com sua evolução musical, vem se aproximando do universo do heavy metal e rock clássico. Se antes o “sangue novo” representava novas possibilidades no mundo da música jovem, agora, ao se aproximar do universo heavy metal e rock clássico, vem significando uma nova onda e a formação de um novo ícone neste território em renovação.
Um nome de marca eficaz deve ser memorável e relevante (Wheeler, 2018) e Yungblud atende a ambos os critérios, servindo como uma poderosa ferramenta de comunicação que se conecta imediatamente com seu público-alvo: a nova geração. Yungblud representa algo entre o Rebelde e o Fora da Lei, arquétipos simbolizam a liberdade de convenções, a luta contra o sistema e a busca pela revolução:
- O nome “Yungblud” já sugere uma ruptura com o antigo e a chegada de uma nova ordem;
- Ele se autodenomina a “voz da nova geração do rock”, quebrando as barreiras de gênero, sexualidade e estilo musical. Segundo o Correio Braziliense, ele se opõe às normas, abraçando o que é diferente e fluido;
- A imagem andrógina, as roupas rasgadas, o cabelo bagunçado e o olhar desafiador remetem diretamente à estética do punk e do rock clássico que, em sua essência, eram movimentos de inconformismo. Sua biografia, com pai dono de loja de guitarras e avô integrante da banda T. Rex, confere autenticidade e uma narrativa de continuidade, reforçando a ideia de que ele é, de fato, o “sangue novo” do rock;
- De acordo com a Rolling Stone Brasil, suas letras abordam temas considerados tabu, como saúde mental e liberdade de expressão, incentivando seus fãs a serem autênticos e a não se encaixarem em caixas pré-definidas.
O sucesso de Yungblud é um lembrete de que o naming vai muito além da sonoridade ou da disponibilidade de um domínio na internet e do INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial). É uma decisão estratégica que molda o futuro de uma marca.
Brading além do naming
Indo além do naming dentro do capítulo de construção da marca, podemos ver como associações com outras marcas ajudam na transferência de valores e aceleram o entendimento dos significados da marca em desenvolvimento. Um exemplo disso é o fato de Yungblud ter passado a ser visto cada vez mais usando acessório e joias Chrome Hearts, um símbolo de status e autenticidade no mundo do rock. A marca, famosa entre lendas como os Rolling Stones, Ozzy Osbourne (padrinho de Yungblud) e outros ícones, representa um “rito de passagem” que comunica que jovem artista faz parte do establishment do rock.
Essas escolhas estratégicas permitem que Yungblud não apenas atraia, mas também mobilize sua base de fãs, transformando-a em uma comunidade. A marca se torna um símbolo de pertencimento para aqueles que se identificam com a atitude de desafiar o estabelecido.
O sucesso em palcos icônicos, como na despedida de Ozzy Osbourne e no tributo a ele no VMA ao lado de figuras como Steven Tyler, solidifica seu lugar no panteão do rock, destaca o Tenho Mais Discos que Amigos. Essas parcerias significam associações de marca que ajudam na transferência de valores e autoridade de lendas do gênero para a marca Yungblud, conferindo-lhe legitimidade.
Na perspectiva de branding, o caso Yungblud ilustra a relação entre a identidade de marca (o todo), o posicionamento (a fração da imagem que se pretende comunicar), a escolha do nome e das demais manifestações de marca que devem ser coerentes com o posicionamento para que o público-alvo forme a imagem pretendida. Yungblud não é apenas um músico, mas um porta-voz de uma causa, e sua marca é a representação de um arquétipo universal que ressoa profundamente com seu público. O resultado é uma imagem que reflete o posicionamento, criando uma marca relevante e autêntica para seu público.
Todo nome é uma promessa
Quando se tornam marcas, os nomes passam a falar mais da coisa que nomeiam do que de seu antigo sentido no dicionário. Não esperamos que os Beatles comecem a zumbir, nem que a Apple nos ofereça maçãs precedidas por um ‘i’. Mas vamos ficar bem chateados se a margarina Delícia não for gostosa ou se a Natura só usar ingredientes artificiais.
O desafio para Yungblud será surfar no cumprimento de sua promessa. Estará ele à altura de se reinventar sempre? O problema do “novo” é que ele não pode ficar velho. E aqui talvez esteja o nó desse excelente e intrigante personagem.
O que vai prevalecer? A promessa e seus desdobramentos comportamentais? Os Rolling Stones cumpriram o prometido: ao longo de 60 anos não criaram (ou criaram pouco) limo. Ou vamos nos focar apenas no grande talento de Yungblud? Provavelmente sua arte vai construir um legado que vai dizer por si mesmo. Porque uma das coisas que devemos considerar sobre naming é que a denominação que escolhermos só existirá porque terá uma trajetória, um percurso, uma sucessão de experiências. Nosso nome precisará esquecer o retrovisor. Olhar e antecipar o futuro. Conversar com as mudanças incessantes pelas quais nós e o nome passaremos.
*Thais Cavalcante é estudante de Comunicação e Publicidade na ESPM e estagiária na SNTS; Sérgio Guardado é Head de Conexões Estratégicas na Troiano; e Alexandre Salvador é Professor de Marketing na Graduação e Pós-Graduação da ESPM.