Leonardo Sasaki, professor de Produção Textual do Colégio Vértice, explica como a leitura pode auxiliar no aprendizado constante
Você deseja saber como a leitura pode ajudar no Enem e outros vestibulares? No episódio 93 do podcast Primeira Jornada, podcast da ESPM que te prepara para o mercado de trabalho, Leonardo Sasaki, professor de Produção Textual do Colégio Vértice, explica como a leitura traz diversos benefícios para os vestibulandos. Neste conteúdo, você irá saber como é possível criar o hábito de ler e poderá conferir obras que vão enriquecer o seu repertório.
Quais benefícios o hábito de ler traz para os candidatos?
Leonardo Sasaki considera a leitura um benefício tanto prático quanto emocional, e é especialmente útil para quem está se preparando para o vestibular. “A leitura funciona como uma espécie de ‘engenharia reversa’. Ao ler bons textos argumentativos, o estudante pode entender melhor a estrutura e a organização dos textos dissertativos que precisará produzir. Para o estudante, quanto mais atento ele estiver à forma como esses textos são construídos, melhor conseguirá aplicar esse conhecimento na própria escrita”,
“Em momentos de muita pressão e ansiedade, como o pré-vestibular, a leitura pode oferecer uma pausa, um espaço de reflexão e interiorização. A ideia de ‘ler levantando a cabeça’, inspirada pelo filósofo Roland Barthes, representa esse momento em que a leitura provoca pensamentos, memórias e conexões, permitindo ao leitor se reorganizar internamente e criar diálogos consigo mesmo”, ressalta o professor.
Quem lê também sente menos dificuldade em exames com textos longos, como o Enem?
“No contexto dos vestibulares, os desafios vão muito além do domínio do conteúdo: exigem resiliência, foco e a habilidade de manter a concentração por longos períodos diante de textos extensos. Quem já tem o hábito da leitura costuma desenvolver essas competências com mais facilidade. Para quem ainda não tem, a leitura funciona como um excelente treino para alcançar essas exigências cognitivas”, explica o professor.
Como os livros de ficção podem ajudar os vestibulandos?
Segundo Leonardo, os livros de ficção ajudam a organizar os pensamentos e permitem um exercício técnico. O professor destaca o valor da ficção, que muitas vezes é reduzida a uma ideia de leitura obrigatória. Essa visão faz com que se perca a dimensão do quanto a ficção pode oferecer em termos de formação intelectual e sensível.
“Quando a gente pensa em temas de redação do Enem, por exemplo, muitos deles não fazem parte da realidade imediata dos estudantes. O tema da invisibilidade do registro civil é um bom exemplo disso. E é aí que a leitura de ficção pode ser transformadora: ela dá acesso a experiências distantes, oferecendo uma espécie de janela para outras realidades”.
Além de ampliar o repertório, Leonardo observa que a ficção estimula o pensamento coletivo, o olhar cidadão e a empatia, características que dialogam diretamente com a proposta do Enem. Nesse sentido, ela deixa de ser apenas uma obrigação escolar para se tornar uma ferramenta de reflexão crítica e inserção social.
Dicas de como incluir a leitura no dia a dia
O professor explica que existem alguns processos para que os vestibulandos adotem a leitura no dia a dia. Primeiro, eles devem criar o hábito de ler e praticá-lo com frequência. O ideal é começar por leituras menores, como os contos, que exigem uma carga inferior a um romance. Depois, precisam entender quais são os tipos de leitura e gênero que mais gostam, pois isso é fundamental para fugir da leitura como uma obrigação. As Graphic Novel, por exemplo, possuem boas adaptações e são uma ótima opção para pessoas que priorizam mais a parte visual. Isso pode servir como um estímulo e uma porta de entrada para a leitura.
Principais obras para enriquecer o repertório
Leonardo explica que, antes de mergulhar em obras densas e cheias de conhecimento, o estudante precisa aprimorar a sua forma de ler — adotando uma leitura mais ativa, consciente e dedicada. Em vez de encarar a leitura como uma obrigação, é importante buscar conteúdos que proporcionem conforto e interesse pessoal. Para isso, ele indica alguns livros que considera relevantes:
1. No Seu Pescoço – Chimamanda Ngozi Adichie
Este é um livro de contos que explora as complexidades da identidade, da migração e do racismo. Chimamanda apresenta personagens nigerianos (principalmente mulheres) lidando com deslocamentos culturais, tanto na Nigéria quanto nos Estados Unidos. Os contos são intensos, sensíveis e provocadores, abordando temas como xenofobia, desigualdade de gênero e os conflitos internos de quem vive entre duas culturas.
2. Olhos d’água – Conceição Evaristo
Reunindo 15 contos, este livro é uma obra fundamental da literatura brasileira contemporânea. Conceição Evaristo dá voz a mulheres negras, marginalizadas e silenciadas, expondo suas dores, resistências e afetos. A escrita poética e potente da autora criou o conceito de “escrevivência” – uma escrita marcada pelas experiências pessoais e coletivas do povo negro no Brasil. O livro de contos entrou para a lista de leituras obrigatórias da Unicamp 2025.
3. Canção para ninar menino grande – Conceição Evaristo
O livro é baseado em um mosaico afetuoso de experiências negras, sobre um canto amoroso e dolorido. Na figura do personagem Fio Jasmim, Conceição discute as contradições e complexidades em torno da masculinidade de homens negros e os efeitos nas relações com mulheres negras. O livro está na lista de leituras obrigatórias da Fuvest 2026.
4. Morangos Mofados – Caio Fernando Abreu
Esta coletânea de contos publicada nos anos 1980 aborda questões como a homossexualidade, a solidão, a AIDS, o medo e o desejo. Caio Fernando Abreu explora o cotidiano urbano e angustiado de personagens que vivem à margem, com uma linguagem lírica, visceral e profundamente humana. O livro é considerado um marco da literatura brasileira contemporânea.
5. A vida não é útil – Ailton Krenak
O líder indígena Ailton Krenak traz reflexões sobre a crise ambiental, o modo de vida ocidental e a necessidade de repensarmos o conceito de humanidade. Ele propõe uma forma de viver no mundo, mais conectada com a natureza e os saberes ancestrais indígenas. É uma obra de resistência, filosofia e espiritualidade que também está na lista de leituras obrigatórias da Unicamp 2025.
6. A terra dá, a terra quer – Antônio Bispo dos Santos
Nesta obra, o autor compartilha saberes tradicionais afro-brasileiros, propondo um olhar ancestral e coletivo sobre a relação com as pessoas e com o mundo. Ele discute temas como colonialismo, resistência, territorialidade e economia da dádiva. É um livro essencial para quem quer compreender os conhecimentos quilombolas como formas de vida e resistência.
7. Erva Brava – Paulliny Tort
As doze histórias que compõem Erva brava orbitam ao redor de uma cidade fictícia incrustada no coração de Goiás. Paisagem rara em nosso repertório literário, o Centro-Oeste brasileiro é palco de embates silenciosos, porém aguerridos, retratados neste livro com sutileza e maestria.