Entenda por que Belém se tornou sede da conferência e como isso afeta a discussão climática global
Pela primeira vez na história, uma edição da principal conferência climática do planeta será realizada na região amazônica. Neste ano, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP 30) irá ocorrer em Belém, no Pará, colocando o Brasil no centro das negociações sobre o futuro do meio ambiente. O evento reunirá líderes do mundo todo em busca de soluções para o aquecimento global.
No episódio 122 do Primeira Jornada, o podcast da ESPM que te prepara para o mercado de trabalho, Veronica Goyzueta, Professora da Graduação em Jornalismo da ESPM-SP, e Demetrius Cesário Pereira, Professor da Graduação em Relações Internacionais da ESPM, explicaram a importância do evento, os desafios do Brasil e o papel das novas gerações nessa agenda.
O que é a COP?
Para entender a COP 30, é preciso voltar à sua origem. Demetrius explica que a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima nasceu na Eco-92, no Rio de Janeiro, evento que ele apelida de “COP 0”.
Como a convenção original era muito genérica, as COPs (Conferência das Partes) passaram a ser realizadas anualmente para aprimorar os compromissos internacionais e buscar medidas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
Veronica complementa que a COP é um espaço vital para negociação global, reunindo governos, cientistas e representantes da sociedade civil. “Embora as decisões não sejam fáceis e nem sempre se chegue a um consenso, se não fossem essas conferências, eu acho que o cenário seria bem mais complexo, bem mais difícil”, ressalta a docente.
Liderança ambiental do Brasil na agenda climática
Esta será a primeira vez em que uma COP ocorrerá na região amazônica, e isso é uma escolha estratégica. Segundo Pereira, a ideia é levar os líderes globais para perto da realidade da floresta. “A Amazônia está no centro do debate climático mundial, mas muitos tomadores de decisão não a conhecem”, explicou.
Essa escolha reforça o protagonismo brasileiro. Pereira explica que o país exerce um forte soft power ambiental, ou seja, a capacidade de influenciar o mundo pelo exemplo e pela diplomacia, e não pela força. Esse tipo de influência costuma estar associado a cultura, tecnologia, arte, ciência e valores nacionais. “Talvez o Brasil seja o ator com o maior poder ambiental do planeta”, afirmou.
Na pauta climática, o Brasil tem a vantagem do capital natural, mas isso também traz responsabilidade. Segundo o professor, o país vive uma encruzilhada, pois pode se consolidar como referência global em preservação ou voltar a ser visto como um “pária ambiental”.
Já Veronica reforçou o papel estratégico do país: “O Brasil é a principal voz do Sul Global, e essa é a região que mais vai sentir os impactos da crise climática.”
O grande diferencial: a voz dos povos originários
Além da escolha geográfica, a COP 30 terá um componente inédito: a participação popular. Goyzueta apontou que, ao contrário de conferências realizadas em locais distantes e de difícil acesso, tanto física quanto financeiramente, Belém permitirá maior participação de povos originários, como indígenas, quilombolas, ribeirinhos e comunidades tradicionais da floresta.
Será a primeira vez que a população que é realmente afetada pelas mudanças climáticas estará presente para acompanhar, dialogar e cobrar decisões. “O grande avanço dessa COP será a possibilidade de ouvir as pessoas que estão sofrendo com essa crise”, afirmou a professora.
Os desafios: financiamento e responsabilidade
Apesar do otimismo, os desafios são grandes, e o principal deles é financeiro. “Uma das questões nesta COP é o financiamento. Ninguém quer abrir mão de recursos, especialmente os países desenvolvidos”, afirmou Goyzueta.
A cobrança recai sobre as nações ricas, que historicamente mais contribuíram para a poluição, para que financiem a transição e a adaptação dos países menos desenvolvidos.
“O debate se baseia no princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas. Ou seja, somos todos responsáveis pelo planeta e pelo meio-ambiente, mas em níveis diferentes, proporcionais ao grau de desenvolvimento e impacto histórico”, explicou Pereira.
Como solução possível, o professor sugeriu que o Brasil, com a experiência do Fundo Amazônia, possa liderar a criação de um fundo global para as florestas tropicais, incluindo as do Congo e da Indonésia.
O papel fundamental das próximas gerações
Para os jovens que acompanham o debate climático, os professores deixaram recomendações práticas.
O primeiro passo, segundo Goyzueta, é buscar informação de qualidade. “É preciso se informar, e se informar bem. Recorrendo a fontes confiáveis, para além das redes sociais”, destacou.
A professora também destacou que a pauta ambiental não é mais um nicho restrito. “Não existe mais área do conhecimento ou atuação profissional que não seja atravessada pela questão climática.”
Pereira, por sua vez, destacou a importância do conhecimento e da valorização do país. “A ideia da COP é que as pessoas conheçam a Amazônia e entendam do que estão falando.”
Para ele, a consciência ambiental está diretamente ligada à identidade nacional. “Ignorar a importância do meio ambiente é ignorar a nossa própria relevância no planeta”, finalizou
Ouça o episódio completo para saber mais sobre o assunto: