Capital humano ganha cada vez mais importância para gerar soluções inovadoras e impactos sociais positivos
Não é de hoje que se fala na substituição de humanos por máquinas em algumas atividades. E com o avanço da inteligência artificial, algumas profissões estão mais perto do que nunca de desaparecer. Mas, segundo especialistas, esse não é o caso de funções em que é necessário ser criativo, imaginativo e ter capacidade de analisar as coisas subjetivamente. Nesse contexto ganha força a economia criativa. Já ouviu falar? Para te explicar o que é economia criativa, conversamos com Fabrício Saad, professor deste tema na ESPM.
O que é economia criativa
Economia criativa é tudo o que usa a criatividade para conceber novos modelos, oferecer soluções para o que já existe, proporcionar rentabilidade e lucro social positivo. “A economia criativa se insere nesse contexto ao atuar em pilares como o digital, com a ideia de economia cíclica, de reaproveitamento, de reutilização, de upcycling, de retroalimentar todo o sistema, com preocupações de sustentabilidade, de inclusão e de responsabilidade social”, explica Saad.
Capital humano
O elemento que transforma a criatividade em negócios criativos e soluções é o conhecimento (também denominado de capital humano) e essa matéria-prima é a base da inovação. “No entanto, esse modelo se diferencia do tradicional pelo propósito de ir além do lucro”, explica Saad. “Ele tem um objetivo muito mais amplo, de beneficiar a sociedade como um todo e de maneira cada vez mais sustentável.”
O resultado de tal propósito vem sendo positivo. O Mapeamento da Indústria Criativa no Brasil, divulgado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) em 2022, revela que em 2020 os segmentos da economia criativa contaram com o trabalho de cerca de 935,3 mil profissionais e movimentaram cerca de R$ 217 bilhões.
Quais setores fazem parte da economia criativa?
Quando surgiu, a economia criativa era vista como um nicho de mercado nas áreas de entretenimento, cultura, artes, design, artesanato, consumo, mídias e tecnologia. Entretanto, o cenário mudou, uma vez que muitas corporações apostam na inovação, e esse modelo de negócios ganhou espaço em todas as cadeias produtivas, incluindo os setores públicos.
As esferas governamentais não produzem, mas aplicam os conceitos em projetos como os de redes e cidades criativas. “Hoje abrange não só as indústrias criativas, mas também as tradicionalmente ‘não criativas’, mas que se beneficiam desse movimento, além de instituições, cidades, redes, comunidades”, comenta o professor da ESPM.
Design e economia criativa
Uma das atividades de mais projeção na economia criativa é o design. Ele está presente em segmentos tradicionais como cinema, decoração e moda, por exemplo, e em áreas que se renovam para se adequar a esse modelo e oferecer experiências diferentes para os consumidores. Nesse contexto, surge um significativo pilar da econômica criativa: o upcycling. “A indústria da moda faz isso muito bem dentro do modelo capitalista. Ela ganha com esse produto inovador — talvez mais até do que com uma coleção normal —, utiliza um resíduo como matéria prima e que antigamente talvez fosse descartado no meio ambiente.”
Setores tradicionais como cooperativas de reciclagem e órgãos governamentais atuam sobre a mesma base. O professor comenta que já em 2015 a Prefeitura de São Paulo instalou chips em bueiros da cidade para apontar risco de alagamento devido ao acúmulo de lixo nesses locais. “Para quem deseja trabalhar na esfera pública, os governos devem caminhar cada vez mais nesse sentido, seja por necessidade ou pressão social.”
Quem trabalha com economia criativa
Para trabalhar com economia criativa não basta optar por uma profissão que tenha afinidade com o tema, porque se trata de um estilo de vida. “O lugar onde se trabalha tem a ver com mindset, essa sintonia com algum propósito, ou seja, aquela ‘cola’ que faz a economia criativa realmente dar certo.”
As novas gerações são naturalmente mais ligadas a temas como sustentabilidade e propósito e, consequentemente, mais preocupadas. Some-se a essa consciência a facilidade com que lidam com o ambiente digital e chega-se ao cenário ideal para que os jovens trabalhem para transformar a sociedade.